Clica-se daqui e clica-se dali e eis que acho na net o texto: “Uma Cidade, Várias Trajetórias” do nosso leitor/colaborador Luiz Orleans, publicadas no seu blog www.luizorleans1984.blogspot.com (basta clicar no link que se chega lá). O Luiz é irmão do também nosso leitor/colaborador Prof. Paulo da Cruz. Além disto, em próprio blog, ele se define como “Poeta bissexto, escritor de nenhum livro e ativista social”. Enfim, também acho que nas horas vagas seja apenas um delmirense(por adoção) como tantos outros, saudoso da sua Macondo Sertaneja.
Grato ao Luiz Orleans pelas palavras elogiosas e análise do nosso blog. [
Sem mais delongas vamos ao texto do Luiz. E depois é com vocês.
Uma Cidade, Várias Trajetórias
Texto original de Luiz Orleans, postado no seu blog em 7 de julho de 2010.
Há algum tempo não dirijo os holofotes para as coisas da nossa terrinha. Já não visitava o Blog do César Tavares, e me parece uma heresia em se tratando de um exilado da “Macondo sertaneja”. Essas coisas são assim, a gente se empolga depois relaxa; outras questões sobressaem, e a vida continua, com ou sem rotina. Porém, alguns sentimentos não fenecem: a saudade é um deles.
Decerto que Paulo Cruz tenha razão em afirmar que quem vive o dia-a-dia do objeto do nosso foco [falar sobre a cidade de Delmiro Gouveia] não perceba o que sentimos; novamente a dita saudade. Eles [os que lá residem] vivem algo que a suplanta, pois estão conectados a relação direta com o objeto, mesmo que em alguns casos filetes de saudosismo se acerquem dos que já estão em idade avançada, ao produzirem certa lembrança de tempos que suponham ter sido melhores [que é uma questão de ponto de vista]. Da minha parte, a saudade é um duro golpe no coração. Quando por algum dilema crônico ou mudança de rumos necessária somos obrigados a parar um pouco, vem à mente um torvelinho de recordações. São imagens que se compartilhadas com todos, através de um holograma futurístico, sobressaem-se cenas de uma viagem de bicicleta pela velha estrada da “Linha do trem” no sentido urbe-Pov. Sinimbu, na imagem eu e Natalício na carona de Agripino; a mãe chamando para jantar [a famosa sopa de feijão]; tardes dançantes que viravam noites; as concentrações na praça do Produban, que se foi; a grande passeata pela reabertura do MED sob controle dos estudantes; as manifestações contra o fechamento da fábrica e a segunda greve operária, pois a primeira foi em 1917, articulada por anarco-sindicalistas, sendo parte da primeira greve-geral brasileira; Fredy Cloves, cantando “Amor Animal”, a gente ensaiando músicas nos Festivais, com Suely e Edson Oliveira, meus parceiros, e tantos mais; as reuniões sobre política, resistindo e sonhando [hoje, com insônia e resistindo às contas...]; os amigos, as amigas, as namoradas; os desafetos, ou não-afetos; as tantas coisas que fazem umas e várias vidas, uma rua, um bairro, a escola, a cidade em suas várias e fascinantes condições humanas e ambientais.
Em um dos meus favoritos exílios, Belo Horizonte, ouvia muito as músicas do pessoal do Clube da Esquina, delas guardo muitos versos que, esparsos, me orientam cada passo e renovam. Uma frase, justíssima, é: “[...] Hoje não passa de um dia perdido no tempo, e grito...” (Toninho Horta), do mesmo modo que Toninho me assaltou com a idéia de um “azul sem manchas do céu do Planalto Central” [Brasília], motivando-me pôr a mochila nas costas e rumar para Palmas, no Tocantins (1994). Sempre me distanciando, retornando por vezes para alguns períodos de afago doméstico e reembrenhamento na vida e cultura da cidade materna, me estranhando cada vez mais com os espaços reduzidos para se lançar mais nas coisas. E ter que sair de vez, por força das circunstâncias para só retornar fortuitamente de quando-em-vez para matar a saudade, esse monstro que renasce a cada momento e ser perpetua até a morte do ser que a transporta.
O BLOG E SUA DINÂMICA O César Tavares é uma figura que, mesmo não o conhecendo de bate-papo, [apesar de já termos nos visto em Delmiro, não gerada empatia por falta de conversa], tenho um grande afeto e consideração. Comunga de muitas coisas conosco, reproduz as lembranças de várias gerações da Macondo sertaneja por puro amor e pertencimento. Tenho-o como um exilado, um igual, portanto, camarada de claustro. Numa sociedade dinâmica, próspera e capacitada, estaria o Blog e seu coordenador nos Anais da Câmara de Vereadores, pelos serviços prestados à municipalidade. Passaria pelo debate nas escolas do ensino básico ao médio. Volveria Encontros e Seminários, algo que provocados em botequins, regados a cerveja e pinga, com petiscos que só quem comeu e viveu o tempo deles sabem (tripa, buchada, bode assado, peixe do açude ou do São Francisco, etc.).
O fluxo e o refluxo das discussões são pertinentes a quem o visita, provoca e insere assuntos e variedades. Da minha parte, poderia já ter feito muito mais que apenas comentar, mas não disponho de acervo para tanto. Daí, apenas só contribuir com breves artigos, notas e pitacos. Sugiro que o Blog se mantenha sempre alimentado ou realimentado, como espaço cibernético de encontros de exilados ou ausentes, na certeza de que o melhor espaço é aquele que oferece aconchego de calor humano, mesmo que no umbral sem temperatura definida da internet.
Cabe aqui comentar que as estatísticas apontam para uma certa universalidade: Delmiro Gouveia, como expressão de pesquisa e documentação. Imagino que muitas pessoas aportaram no Blog por estarem procurando pelo “pioneiro” coronel Delmiro Gouveia, e quaisquer movimentações com o uso da expressão está colocada como relevância para pesquisa. Com certeza algumas pessoas se frustaram, outras nem imaginaram que encontrariam um Blog sobre fatos passados na urbe homônima. Uns tantos ao perceberem a existência do espaço de abordagens e comentários, ficaram amigos de Delmiro, o Blog. Eu, por minha vez, posto este artigo no Blog http://www.blogspot.luizoleans1984.com.br/, traduzindo o sentimento de que os amigos se encontram no “Amigos de Delmiro Gouveia” para rir e chorar a saudade da sua terra.
Julho de 2010
(Inverno meridional)
Luiz Orleans