sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Dialeto de Cabras da Peste ou: seu fulêro não entendeu não?

Imagem:direitos autorais da www.camiseteria.com

O texto de hoje é fruto da pesquisa e colaboração do Abrahão, e concatena-se perfeitamente com o mote do vocabulário delmirense.

É um verdadeiro dialeto

Se é miúdo é pixototinho.
Se é pequeno é cotôco.
Se é alto é galalau.
Se é franzino é xôxo.
Tudo que é bom é massa.
Tudo que é ruim é peba.
Rir dos outros é mangar.
O bobo se chama leso.
E o medroso chama frouxo.
Tá torto é tronxo.
Vai sair diz vou chegar.
Dar a volta é arrodeio.
Se é longe é o fim do mundo.
Dinheiro é bufunfa.
Caba sem dinheiro é liso.
Pernilongo é muriçoca.
Chicote se chama peia.
Quem entra sem licença emburaca.
Sinal de espanto é - - vôte!!
Se tá folgado tá foló.
Quem tem sorte é cagado.
Quem dá furo é fulêro.
Sujeira de olho é remela ou argueiro.
Gente insistente é pegajosa.
Agonia é aperreio ou gastura.
Meleca se chama catôta.
Gases se chamam bufa.
Catinga de suor é inhaca.
Mancha de pancada é roncha.
Palhaçada é munganga.
Desarrumado é malamanhado.
Pessoa triste é borocoxô.
E então é iapôis.
Pois sim é não concordo.
Pois não é estou as ordens.
Correr atrás de alguém é dar carreira.
Passear é bater perna.
Fofoca é resenha.
Estouro se chama pipôco.
Confusão é rolo.
Travessura é presepada
Gente complicada é nó cego.
Paquerar é se "inxerir".
Distraído é aluado.

Vixe Maria! Entendeu esse menino?

Agora é com vocês.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Vocabulário Delmirense


Arte de: David Eduardo da S. Correia.

Na tentativa de ir levando o blog adiante resgatamos hoje algo iniciado em 2002 no primeiro site http://www.amigosdedelmirogouveia.hpg.com.br/ Na primeira versão do site, o vocabulário delmirense era uma das seções mais comentadas. Estamos trazendo agora uma edição revista e ampliada de alguns termos macondianos. Assim, creio, estaremos facilitando a vida dos turistas que por lá aportarem. Lembrando que algumas das palavras abaixo também são utilizadas em outros rincões e figuram aqui como curiosidades.

Vamos agora aos termos, acompanhados de seus respectivos significados ou contexto em que eram empregados. Propositalmente, não os coloquei em ordem alfabética; eles foram inseridos conforme as lembranças iam surgindo na minha cabeça. Obviamente, a lista terá os devidos complementos e acertos feitos pelos leitores/colaboradores.

Menino Malino - Criança traquinas e que fica mexendo em tudo.
Menina Danástica - É uma menina malina. Expressão também é empregada para se referir quando era muito inteligente ou com muitas habilidades. Hoje talvez diríamos que seria uma menina desenrolada.
Pau de virar tripa - Diz de pessoas bastante altas e magra.
Bia - Toco de cigarro. Ex: “fulano antes de você terminar o cigarro me dá a bia”.
Dar (ou levar) um Babau: Dar (ou levar) algumas pancadas em alguém.
Popa - Ficar zangado, irado. Ex: fulano deu uma popa
Fuleiro - Engraçado, safado Ex:fulano é um cara fuleiro
Velhaco - Mau pagador.
Meia-Colher - Utilizado para designar um mau pedreiro ou que não sabe fazer bem os acabementos de uma obra. “Fulano é um pedreiro meia-colher”
Cuia - Unidade de medida para comprar farinha no Mercado Público
Cair do banco - Diz do homem que em algum momento dá pintas ou apresenta trejeitos homossexuais. Então se fala: “fulano parece que cai do banco”
Banho-de-cuia - mesmo que dar um chapéu no futebol
Dar de arruda - mesmo que drible da vaca no resto do país
Salaminho -Unidade de medida para compra farinha no Mercado Público
Braiado – O mesmo que misturado ou misto. Expressão bastante usada por Albany(primo do Edson Borracha) e que morava na Lagoinha.
Barrufa – Alta velocidade ou correria. “Fulano passou por aqui no maior barrufa”
Casar a Pulso - mesmo que casar na marra. Quando alguém fazia mal a filha de outrem.
Fazer Mal - Disvirginar alguém(na época isto era muito importante)
Reca - Um monte de gente, multidão: Ex: Uma reca de meninos
Ruma - também tem o mesmo significado de Reca ; Ex: Uma ruma de gente passou por aqui. Magote - mesmo signficado de reca e ruma.
Malhar - Era pronunciada maiar e significava Entrar sem pagar em algum local. Ex: maiar no circo, ou no Cine Pedra usando como escada os muros dos fundos das casas da vila operária. Bubônica - expressão com significado de exagero.Normalmente usada de forma sincopada Ex: Tá cum a bubônica” ou sua variante Tá cum a boba
Bozó - Jogo de dados
Ir à rua - Significava ir a av. Castelo Branco (principal artéria da cidade).
Riba - Em cima. Ex: menino desça daí de riba...
Biliro - grampo de cabelo Cachete – comprimido (remédio)
Pilombeta – chilique (geralmente feminino). Ex: fulana deu a pilombeta!
Ximbra - bolinha de gude
Toitiço - região da nuca. Ex: fulano levou um soco no toitiço
Samangue - policial Ex: Lá vem os samangues
Pão Aguado - o que no resto do país é conhecido como pão francês
Feiticeira - espécie de bolachão Xebra -Também uma espécie de bolachão
Fato - Intestinos do boi
Pacaio – Cigarro artesanal feito de fumo de rolo e palha. Termo também utilizado para cigarros sem filtro.
Lasca Peito - Cigarro barato. É quase um pacaio.
Farinha - Cara chato. Ex: Lá vem aquele farinha...
Pará - espécie de mingau feito com farinha, água, ovos e pimenta do reino. Usado para curar ressaca.
Lambaio - Puxa-saco. Bajulador.
Xêxo - não pagar alguém. Ex: Fulano saiu com Mocozinha (antiga profissional da área prestação de serviços de educação e iniciação sexual) e deu um xêxo.
Coronha - Diz-se da calça curta que deixa aparecer os tornozelos. Como as nossas fardas de tecido cáqui do GVM ficavam após três lavadas: coronhas
Pregas de Mira - diz-se de alguém metido a besta. Ex: Fulana só quer ser as pregas de Mira. Faz referência a uma senhora “louca e vaidosa” que andava pelas ruas da Macondo Sertaneja
Coração da Índia - fruta que em outros lugares é conhecida como graviola
Ximbuca - sandália de couro vendida na feira o design lembra a boca de um sapo aberta Cassaco - Alguém que exala mau cheiro. Termo preconceituoso dado aquelas pessoas humildes que vinham à feira em cima de carrocerias de caminhões.
Cabilouro - Cartilagem que vem junto com a carne. Bastante usada em sopas.
Bôto - Diz-se da criança que tem por função procurar as outras na brincadeira de esconde-esconde.
Bacurinho - Porco novo.
Barrão - Porco gordo e velho
Pai de Chiqueiro - Bode velho ou também utilizado no sentido de aquele que manda por ali. “metido a pai de chiqueiro” Termo também empregado para homem que tinha várias mulheres.
Vôte - exclamação de espanto esignificando mais ou menos como credo!!!
Vixe - forma sincopada de Virgem Maria também usada como forma de espanto
Ôxe - originalmente era: ô gente para expressar espanto. Com o passar do tempo foi abreviada.
Negão - tratamento gentil com os amigos. Ex: Negão, a banda que tocou ontem no Vicentão era massa. Esta expressão também era bastante utilizada quando um menino “ficava de mal de outro” e voltavam a brincar porém evitava-se falar o nome do mesmo. Então era um tal de negão prá cá e negão prá lá.
Flau - picolé em saquinhos. Em outras regiões conhecido como sacolé ou dindin.
Gás - Querosone. Bebeu gás - diz-se quando nos referimos a alguém que tomará alguma decisão controvertida e polêmica ou que exige uma certa dose de insanidade. Ex: “Ele num é doido. Não bebeu gás”
Pés-do Cão - Perigoso. Ex: fulano é os pés do cão;
Pés da Besta – Utilizada no mesmo sentido de Pés do Cão.
Raia - O mesmo que pipa ou papagaio;
Derna - Forma sincopada de Desde significa faz muito tempo que o fato aconteceu Ex: Um delmirense conversando com outro: Edson tem o apelido de Borracha derna que César morava por aqui
Avexe - diz-se para alguém apressar-se Ex: avexe menino tire as roupas do varal que vai chover
Quarador – Local formado por pedras dispostas no chão e utilizado para secar roupas lavadas. Avia - uma variante de avexe. Também usado para dar o sentido de urgência
Tuia - o mesmo que reca, ruma, camboio, magote. Sempre usado no sentido de multidão ou monte de alguma coisa. Ex: Havia uma tuia de caras fuleiros no GVM
Quiba - associados a testículos. Ex: A aula de fulano é chata demais é pior que um chute nos quibas
Peba - coisa sem grande valor. Algo fuleiro. Ex: O circo de Colombinha era muito peba.
Labafêro - Bagunça, barulho. Ex: Quando no GVM resolviam cobrar as mensalidades, era o maior labafero que os alunos faziam no lado de fora próximo da quadra.
Pegar Boi - Diz de alguém quando está com pressa. Ex: Meu filho vai avexado assim prá onde? Vai pegar boi é?
Engabelar - Enganar Ex: Tá pensando que eu sou besta é? Tá querendo me engabelar bichinho?
Acoitar - Esconder
Passamento - Desmaio. Ex: Dona Fulana teve um passamento.
Comida de rabo – Termo chulo empregado quando alguém levava um bronca do chefe. Ex: “fulano acabou de levar a maior comida de rabo de sicrano”
Pica Grossa – Termo chulo para se referir ao chefe ou aquele que emitia ordens
Cafofa - Bola chutada em direção ao goleiro com pouca força. O goleiro então para irritar o adversário pega a bola entre as mãos, balança-a e olha em direção ao jogador e diz “cafofa” o que pode ocasionar uma briga pela afronta e desrespeito à honra esportiva.

Agora é com vocês.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

1972: Um Ano Que Ainda Dói no Ouvido

Como estamos em plena “Semana da Pátria” reproduzo com pequenas modificações texto publicado no http://www.amigosdedelmirogouveia.blogger.com.br/ em 24 de novembro de 2004. Na época ele rendeu alguns comentários. Mas não custa nada resgatar o mesmo e tentar fazer o nosso blog caminhar um pouco mais.

Ano 1972 - Alguns fatos. Cenário Mundial: A Guerra do Vietnã se aproxima do fim. Henry Kissinger, secretário de estado americano, negociava nos arredores de Paris uma saída honrosa para os EUA. Na Olimpíada de Munique 12 atletas israelenses eram feitos reféns e depois mortos por militantes da OLP. Nixon visitava a China.

Cenário Nacional: Imperava o auge da ditadura militar. Governo Médici. Imprensa censurada. Lei de Segurança Nacional. O capitão Lamarca, talvez a figura mais conhecida da resistência de esquerda, já havia sido assassinado no sertão da Bahia. Gil e Caetano voltavam do exílio londrino.

Cenário delmirense (macondiano): Eu fazia a 4ª série primária no Grupo Escolar Francisca Rosa da Costa. A escola tinha apenas quatro salas de aula. Diretora: Teresinha Bandeira. Professora: Sônia Camilo. (minha colega, aqui ao lado, acabou dar uma risada. Caramba: você saltou de Henry Kissinger e Olimpíadas para o 4º ano primário em Delmiro Gouveia. Isso é que eu chamo de viagem).

Eu, uma criança, naturalmente não sabia nada do que rolava pelo mundo e muito menos no país. Os anos de chumbo caiam no lombo do povo. Eram os tempos do Brasil: Ame-o ou Deixe-o (minha colega aqui do lado está completando: o último que sair, apague a luz do aeroporto). E a abertura lenta, gradual e segura ainda nem era projeto. Isto só viria acontecer nos anos Geisel. Mas aí já é outra história.

Certa vez, a palavra subversivo, foi pronunciada de maneira baixa, sussurrada e entreolhando para os lados. Assim como comentavam que alguém estava com câncer. Era algo mais ou menos assim: Os filhos do Sr. Leite e do Sr. Dom foram presos em Recife. Isto ouvi ali na casa do meu avô: Rua da Matriz, 222.

Creio que eles militavam no movimento estudantil. Nunca soube o que eles tinham feito de fato. Mas sei que “subversivo” era algo muito grave. Aliás, se algum leitor que os conheceu quiser contar a história por aqui ficarei bastante grato. Matarei a curiosidade infantil.

Mas aqui estou a tergiversar. Voltando ao Grupo Escolar (vizinho ao Bar da Tripa).

Enquanto tudo isto acontecia, lá estávamos nós na frente da escola, todos trajando camisa branca com o escudo da escola no bolso, calças curtas ou saias azul-marinho, meias brancas e os inesquecíveis e confortáveis sapatos conga nos pés. Hasteando a bandeira, mãozinhas em cima do peito esquerdo a cantar em altos brados o hino do sesquicentenário da independência. Era isto mesmo. Fazia 150 anos que o D. Pedro I tinha soltado o brado do Ipiranga. E não é que este hino, de tanto ser cantado (afinal todas as quintas-feiras cumpria-se o ritual) até hoje permanece em minha memória. E às vezes me pego inconscientemente cantando-o. Isto que é foi uma lavagem cerebral bem dada.

O detalhe interessante era que se alguém fizesse alguma gracinha ou saísse do tom, levava umas chocalhadas na cabeça (é isto mesmo que você está lendo, chocalhadas. Afinal o chocalho usado em pescoço de cabras e bode, na escola tinha a dupla função de servir de “campainha” e como instrumento de repressão aos “meninos malinos” (putz, esta expressão fui buscar longe, não?). A Teresinha não perdoava. Eu nunca levei. E bom deixar isto bem claro. (risos).

Bem, será que você também lembra do hino? Então relembre. Eis aí o dito cujo.

Hino do Sesquicentenário da Independência

(Canção de Miguel Gustavo)

Marco extraordinário

Sesquicentenário da independência

Potência de amor e paz

Esse Brasil faz coisas

Que ninguém imagina que faz

É Dom Pedro I

É Dom Pedro do Grito

Esse grito de glória

Que a cor da história à vitória nos traz

Na mistura das raças

Na esperança que uniu

No imenso continente nossa gente, Brasil Sesquicentenário

E vamos mais e mais

Na festa, do amor e da paz (Bis)

E dessa época? O que você lembra?